Recebi do
confrade Paiva Filho e compartilho.
Por Pedro Valiati
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Círio
de Nazaré
A fé e a emoção coletiva que falam mais que as dúvidas e a intolerância.
Todo mês de outubro em
Belém, capital paraense, ocorre a maior festa religiosa do Brasil e também do
planeta. Trata-se do Círio de Nazaré. Apenas a título de curiosidade,
conheceremos um pouco da história da festa antes de entrarmos na questão
moral, relativa à mesma. Conta a história que em 1700, um homem chamado
Plácido teria encontrado entre as pedras uma imagem de Maria – mãe do Cristo
– em madeira, medindo aproximadamente 28 centímetros. Ela estava amamentando
seu filho. Plácido então, resolveu limpá-la e dar-lhe um altar na própria
casa. No entanto, por diversas vezes, a imagem retornava ao lugar onde fora
encontrada. Interpretando tal fato como milagre, Plácido resolveu construir
uma pequena ermida no lugar onde fora encontrada. Neste lugar hoje se
encontra a basílica de Nazaré. A imagem atraía tamanha atenção do povo que o
governador da época, Francisco Coutinho, determinou sua remoção para o
palácio da cidade, em Belém, colocando inclusive, guardas para vigiá-la
durante as 24 horas do dia. Não demorou muito, e segundo a história, a imagem
retornou a pequena ermida. A partir desse momento, a devoção tornou-se ainda
maior na região originando-se, em 1773, na festa do Círio de Nazaré.Engana-se
quem imagina que adentraremos na questão do culto a imagens, seria
superficial e injusto classificar ilegítima uma festa de mais de 200 anos, a
qual atrai mais de 2 milhões de pessoas, por uma questão de sincretismo
religioso. Igualmente, não destacaremos os excessos cometidos por alguns
nesta festa, diga-se o consumo de álcool, ou ainda a questão da maceração
física, também praticada por outros. Há muito mais por trás do Círio de
Nazaré.Quantas são as oportunidades de visualizarmos uma manifestação
religiosa de prática do catolicismo reunindo não apenas católicos, mas
evangélicos, espíritas, umbandistas, etc.? Até os que não tem religião determinada,
comparecem todo ano ao encontro com a festa religiosa. O Círio não pertence a
determinada religião, está acima disso. Ele pertence ao povo que o realiza e
que o considera tão importante quanto o natal. O Círio é de todos. Nele, não
existe padre nem pastor, pobre ou rico, o negro ou o branco. Todos querem
contribuir no percurso em que a berlinda com a imagem de Maria percorre e
homenageá-la. Tal fato nos revela que é possível a convivência entre as
religiões sem agressões ou querelas, sem acusações ou imposições, basta
apenas que algo acima se manifeste: A Fé.A nós espíritas, não pensemos que o
plano espiritual encontra-se cego ou ausente a tal manifestação. Nos é
relatado que as legiões do bem são acionadas para a assepsia fluídica da
cidade, envolvendo os fiéis para que todos que ali estão movidos por um
sentimento de amor sintam-se melhores. Existe um envolvimento espiritual das
falanges do bem em favor da cidade e igualmente dos romeiros, como são
chamados aqueles que acompanham a berlinda. Alguns irmãos dotados da vidência
igualmente relatam uma entidade, enviada direta de Maria, no lugar onde se
encontra a imagem da santa, a distribuir bênçãos e fluidos de amor aos fiéis.
As palavras não definem o alcance e o significado sentimental da festa. É
necessária a presença no local para o entendimento de tamanha emoção com a
passagem da imagem da santa e também do significado do almoço do Círio,
símbolo de união da família em forma de alegria e agradecimentos pelo momento
vivido.Não é fácil compreender o Círio como fenômeno de fé. O sentimento é
tão contagiante e verdadeiro quanto inexplicável, não entendemos a emoção
gratuita das pessoas, não sabemos se as lágrimas são fruto do alcance de uma
“graça”, um pedido atendido, a cura de uma doença, uma dificuldade vencida,
ou a simples emoção coletiva que toma a todos. Se não nos é dada a capacidade
da compreensão, que possamos ao menos verificar a vitória da tolerância
religiosa em torno de um sentimento coletivo. Se não concordamos com a figura
da festa, que admitamos e reflitamos acerca da presença divina no cortejo,
algo bem maior que dúvidas ou preconceitos religiosos está em questão. O
Círio é fruto da fé dos povos e das religiões ali manifestas, sob a égide e
amparo de Deus e, naturalmente, sob as bênçãos da mãe do Cristo, da mãe de
todos.
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