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Zeneida Alves de
Assumpção (UEPG): rádio na escola pode ser um mecanismo de ensino, educação e
cultura
Rádio na escola é um vetor de
incentivo a toda a comunidade escolar
Autor: Arquivo pessoal
Professora do
Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no
Paraná, Zeneida Alves de Assumpção implantou e coordena a Radioweb da
instituição.
Doutora em
Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, é
graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná. Jornalista
aposentada da Prefeitura Municipal de Curitiba, é pesquisadora em
Mídia-Educação e Jornalismo Científico.
Em entrevista ao
Jornal do Professor, Zeneida Alves de Assumpção afirma que a utilização do
rádio na escola poderá ser um mecanismo de ensino, educação e cultura
permanentes e um vetor de incentivo à toda a comunidade escolar. Em sua visão,
é uma mídia eletrônica de fácil acesso, que pode ser instalada em qualquer
escola, com equipamentos simples e custos pequenos.
Jornal do Professor – Qual a colaboração que a utilização
de uma rádio na escola pode trazer para o ensino e a educação?
Zeneida Alves de Assumpção – São muitas. A
radioescola poderá contribuir com o ensino e a educação de forma crítica e
contextualizada. Ela é um vetor de incentivo para toda a comunidade escolar, do
aluno à cantineira/merendeira, que poderá anunciar qual será o cardápio de
merenda semanal, por exemplo. O anúncio do novo cardápio poderá, por exemplo,
ser feito pelos próprios estudantes através da radioescola. Assim, eles
colocarão em prática a oralidade e conhecimentos aprendidos e apreendidos em
diversas aulas: língua portuguesa (nesse momento, os alunos poderão colocar em
prática a escrita, o falar corretamente), ciência (os conhecimentos sobre
alimentos, a saúde, o se alimentar bem, a cultura dos alimentos, etc..),
história (a origem dos povos e alimentação); geografia (tipos de alimentos e
solos), etc... sem ninguém estar corrigindo-os com “caneta vermelha”. Nesse
contexto, a escola deixa de ser o “panóptico” e passa a ser a ser parceira do
ensino, da educação e da cultura, tendo a radioescola como aliada, permitindo
aos estudantes a livre liberdade de expressão, pensamento, comunicação e
construção do próprio conhecimento.
A mídia radiofônica
(seja qual for à tecnologia utilizada) necessita tanto da escrita quanto da
fala, do conhecimento, da cultura geral. Nesse aspecto, reside a relevância da
radioescola no espaço escolar. Ela poderá ser um mecanismo de ensino, educação
e cultura. Quando falamos aqui de educação e de cultura, não estamos nos
remetendo somente à educação escolar, mas também à educação e cultura permanentes.
A rádio (tradicional/hertziana, webradio, radio-online) faz parte do cotidiano
de alunos, pais, professores, gestores e funcionários pertencentes à comunidade
escolar e divulgam, de alguma forma, cultura. Quando os alunos utilizam a
radioescola no espaço escolar orientados por professores, passam também a
perceber e questionar a mídia radiofônica externa com outros olhos e ouvidos.
Ou seja: com olhos e ouvidos mais aguçados, mais críticos. A radioescola
poderá, então, colaborar com o ensino e educação dentro e fora dos muros
escolares.
JP – Quais as habilidades que o projeto de uma rádio pode desenvolver
com professores e alunos?
ZAA – Os professores precisam entender que as mídias estão presentes na vida e
no cotidiano das pessoas, inclusive de seus alunos. O rádio é considerado a
primeira mídia eletrônica de fácil acesso e vem contribuindo com a educação
escolar e não-formal desde os seus primórdios. A radioescola também é de fácil
acesso e qualquer escola poderá instalá-la. Os recursos são de custos pequenos.
A radioescola permite o desenvolvimento de determinadas habilidades: a)
fluência na leitura de pequenos textos (mensagens) ao microfone; b)
interpretação; c) produção de texto; d) espírito de equipe e companheirismo; e)
responsabilidade com a programação da radioescola e com os ouvintes; f) síntese
de textos; g) pesquisa de temas; h) iniciativa própria de estudantes e
professores; i) análise crítica do meio radiofônico e demais mídias; j)
eloquência...
JP – De que maneira o professor pode utilizar essa ferramenta na sala de
aula? Quais os conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio dela? Dê alguns
exemplos.
ZAA – A radioescola deve ser utilizada na sala de aula de forma
problematizadora e crítica, levando o educando (emissor/receptor) à aquisição
do conhecimento sistematizado, à reflexão e a possíveis intervenções no seu
cotidiano (seja escolar ou fora dele). Ela deverá possibilitar ao estudante
compartilhar, democratizar, com outros colegas, o saber elaborado e novos
conhecimentos. Para isso, o estudante e professor deverão conhecer e se
familiarizar com a linguagem radiofônica, promover o intercâmbio de informações
entre estudantes e comunidade escolar, ter conhecimento técnico e artístico de
emissora radiofônica, bem como o conhecimento sobre mensagens elaboradas (por
meio da edição).
A radioescola
possibilita trabalhar com a maioria dos conteúdos. Dentre eles: geografia,
história, ciência, artes, educação física, língua portuguesa, literatura,
língua estrangeira. Por exemplo: língua portuguesa (produção e edição de
textos; leitura e interpretação de textos mediante notas, notícias,
reportagens, entrevistas). Na literatura (peças radiofônicas de contos
consagrados de Machado de Assis ou de livros indicados para o vestibular);
língua estrangeira (um programa de entrevista com professores das disciplinas
de francês, italiano, inglês, espanhol, alemão, etc..., posteriormente
questionado em sala de aula); ciência (uma radionovela falando sobre
alimentação, nutrição, saúde, meio ambiente....); história (programa de
entrevista sobre o Egito antigo ou outro tema). Cabe aqui a criatividade do
professor e o direcionamento dele para com os alunos e para com a radioescola.
Qualquer produto a ser produzido pelos alunos e veiculado pela radioescola
deverá ter o direcionamento pedagógico de forma democrática.
JP – Como inserir o projeto de uma rádio escola no projeto pedagógico da
escola? Há sugestões de projetos prontos bem desenvolvidos?
ZAA – Para que a radioescola seja inserida no projeto pedagógico da escola e que
dê certo, é primordial que a escola não seja adepta de uma pedagogia
tradicional. Qualquer projeto envolvendo mídias jamais terá bons resultados se
a comunidade escolar, professores e gestores não forem democráticos e
participativos. Em 1994, a Secretaria de Educação Municipal de Curitiba
implantou, em várias escolas, o meu projeto Radioescola. Ele permaneceu atuante
por seis anos ininterruptos. Atualmente, ele reaparece também numa das escolas
municipais de Curitiba. A programação realizada por estudantes sob a
coordenação/orientação de professores e jornalistas é veiculada pela Radioweb
da Prefeitura de Curitiba.
Outra experiência
nesse sentido foi um de meus projetos, intitulado “Pedagogia da comunicação,
mídias e ensino: o uso delas na educação”. Esse projeto contemplava a
Rádioescola Meneleu. Alunos do ensino médio do Colégio Estadual Professor
Meneleu, em Ponta Grossa, participavam desse projeto realizado sob minha
coordenação, na UEPG. Nos encontros semanais, os estudantes do ensino
fundamental discutiam e produziam a programação, a qual era veiculada pela a
Radioweb-UEPG.
JP – Quais os equipamentos básicos necessários para que uma escola possa
produzir programas de rádio?
ZAA – Os equipamentos são simples. Com o advento da internet e com a presença
dela nas escolas, há mais facilidade hoje dessas instituições instalarem suas
próprias webrádios-escolas. Basta ter um computador, uma mesa de áudio de 12 ou
16 canais. Talvez, o pior entrave seja a capacitação docente. Por isso, é
necessário que haja políticas educacionais públicas para a inclusão das mídias
na sala de aula. Assim, os professores deverão ser capacitados
(mídia-radiofônica e informática). Os estudantes aprendem rapidamente a
informática básica e as mídias. Eles são “a geração da rede”, na concepção de
Juan Luis Cebrian (1999). Porém, precisam do professor capacitado também.
JP – A senhora coordenou o programa Rádio Aluno, em 1995 e 1996, em que
jornalistas e estudantes de escolas públicas municipais, estaduais e
particulares produziam programas que eram veiculados na Rádio Educativa do
Paraná. O que pode nos contar sobre essa experiência? Quais os principais
resultados obtidos com os estudantes?
ZAA – As minhas atividades como
coordenadora do Programa Rádio-Aluno começaram em abril de 1995 e encerraram-se
em setembro de 1996, com 40 programas produzidos por alunos e levados ao ar
pela Rádio Educativa do Paraná e demais emissoras do interior paranaense. Nesse
período de vigência do Rádio-Aluno, diversas escolas públicas e particulares de
Curitiba e interior do Paraná participaram desse programa. A metodologia do
projeto funcionava assim: as escolas eram comunicadas sobre a visita de minha
equipe. Os alunos escolhiam os temas e os discutiam democraticamente entre eles
e com os professores. Os temas eram repassados à minha equipe. De posse dos
temas e convidados, a minha equipe se dirigia à escola. Com as externas da
Rádio Educativa montada na sala de aula, os alunos faziam entrevista com os
convidados sobre o tema em pauta. Por exemplo: tema “Pena de Morte” (os alunos
escolheram esse tema e estudaram-no com os professores). A nossa equipe
convidou especialistas de diversas áreas: teológica, jurídica, educacional,
psicologia, psiquiatria, entre outras, para serem entrevistados pelos
estudantes. E, dessa forma, ocorreu comos 40 programas, dentre eles: “Aborto”,
“Namoro na Adolescência”; “Mercado de Trabalho”; “Gravidez na Adolescência”;
“Brigas de Torcida de Futebol”; “O Jovem e a Religião”; “A televisão”;
“Ecologia” e outros. Os temas escolhidos pelos estudantes sempre se
relacionaram com temas sociais que os afligiam.
O Programa
Rádio-Aluno era constituído por três blocos: 1) “Rádio-Aluno Informa”; 2.
“Rádio-Aluno Debate” e 3) Rádio-Aluno integrando o Paraná”. Nos três blocos
havia a participação dos estudantes de ensino fundamental. Dentre os principais
resultados dessa iniciativa, é de que os alunos ao escolherem democraticamente
os temas, os pesquisavam cientificamente mediante ajuda dos professores e
procuravam obter mais conhecimentos para poderem questionar e debater com os
especialistas convidados. Dessa forma, os estudantes construíam o conhecimento
sobre o tema, livremente, sem cobranças de professores. Nesse aspecto, a radioescola
é uma grande aliada da educação e do ensino-aprendizagem. O projeto/programa
foi encerrado devido a meu retorno à Universidade Estadual de Ponta Grossa e
meu ingresso no Programa de Pós-Graduação Sctrito Sensu (doutorado em
Comunicação e Semiótica) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), em 1997.
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