Por Martha Medeiros
Que honremos o fato de ter nascido, e que
saibamos desde cedo que não basta rezar um Pai- Nosso para quitar as falhas que
cometemos diariamente. Essa é uma forma preguiçosa de ser bom. O sagrado está
na nossa essência, e se manifesta em nossos atos de boa-fé e generosidade,
frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião. Se não estamos
focados no bem, nossa aclamada religiosidade perde o sentido.
Que se
perceba que quando estamos dançando, festejando, namorando, brindando,
abraçando, sorrindo e fazendo graça, estamos homenageando a vida, e não a
maculando. Que sejam muitos esses momentos de comemoração e alegria
compartilhados, pois atraem a melhor das energias. Sentir-se alegre não deveria
causar desconfiança, o espírito leve só enriquece o ser humano, pois é condição
primordial para fazer feliz a quem nos rodeia.
Que estejamos sempre abertos, se não
escancaradamente, ao menos de forma a possibilitar uma entrada de luz pelas
frestas. Que nunca estejamos lacrados para receber o que a vida traz. Novidade
não é sinônimo de invasão, deturpação ou violência. Acreditemos que o novo é
elemento de reflexão: merece ser avaliado sem preconceito ou censura prévia.
Que
tenhamos com a morte uma relação amistosa, já que ela não é apenas portadora de
más notícias. Ela também ensina que não vale a pena se desgastar com pequenas
coisas, pois no período de mais alguns anos estaremos todos com o destino
sacramentado, invariavelmente. Perder tempo com picuinhas é só isso, perder
tempo.
Que
valorizemos nossos amigos mais íntimos, as verdadeiras relações pra sempre.
Que
sejamos bem-humorados, porque o humor revela consciência da nossa
insignificância – os que não sabem brincar se consideram superiores, porém não
conquistam o respeito alheio que tanto almejam. Ria e engrandeça-se.
Que o mar esteja sempre azul, que o céu seja
farto de estrelas, que o vinho nunca seja proibido, que o amor seja respeitado
em todas as suas formas, que nossos sentimentos não sejam em vão, que saibamos
apreciar o belo, que percebamos o ridículo das ideias estanques e inflexíveis,
que leiamos muitos livros, que escutemos muita música, que amemos de corpo e
alma, que sejamos mais práticos do que teóricos, mais fáceis do que difíceis, mais
saudáveis do que neurastênicos, e que não tenhamos tanto medo da palavra
felicidade, que designa apenas o conforto de estar onde se está, de ser o que
se é e de não ter medo, já que o medo infecciona a mente.
Que
nosso Deus, seja qual for, não nos condene, não nos exija penitências, seja um
amigo para todas as horas, sem subtrair nossa inteligência, prazer e entrega às
emoções que nos fazem sentir plenos.
A vida é um presente, e desfrutá-la com leveza,
inteligência e tolerância é a melhor forma de agradecer – aliás, a única.
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