Por Rachel
de Queiroz
Netos
são como heranças.
Você
os ganha sem merecer.
Sem
ter feito nada para isso.
De
repente, lhe caem do céu...
O
neto é, realmente,
o
sangue do seu sangue,
filho
do filho,
mais
filho do que filho,
mesmo...
“Os
netos são filhos com açúcar”
Cinqüenta
anos, cinqüenta e cinco...
Você
sente, obscuramente,
que
o tempo passou
mais
depressa do que esperava.
Não
lhe incomoda envelhecer, é claro.
A
velhice tem suas alegrias,
as
suas compensações.
Todos
dizem isso,
embora
você, pessoalmente,
ainda
não as tenha descoberto,
mas
acredita.
Todavia,
também obscuramente,
sente
que, às vezes,
lhe
dá aquela nostalgia da mocidade.
Do
tumulto da presença infantil
ao
seu redor.
Meu
Deus,
para
onde foram as suas crianças?
Naqueles
adultos cheios de problemas
que
hoje são os filhos,
que
têm sogro e sogra, cônjuge,
emprego,
apartamento e prestações,
você
não encontra de modo algum
as
suas crianças perdidas.
Sem
dores, sem choros.
Aquela
criancinha da qual você
morria
de saudades, chega.
Símbolo
ou penhor da mocidade perdida.
Pois
aquela criancinha,
longe
de ser um estranho,
é
um Filho seu que lhe é devolvido.
o
espantoso é que todos lhe reconhecem
o
seu direito de o amar com extravagância.
Ao
contrário, causaria espanto, decepção, se você não o acolhesse imediatamente
com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu
coração.
Sim,
tenho certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas
trazidas pela velhice.
São
amores novos,
profundos
e felizes,
que
vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
É
quando vai embalar o menino e ele,
tonto
de sono, abre o olho e diz:
"Vó
", que seu coração estala de felicidade,
como
pão no forno!
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