quarta-feira, 26 de junho de 2013

Precisamos de seis abraços a cada dia


 SEIS ABRAÇOS
Maria Helena Matarazzo

Uma química delicada se produz entre duas pessoas que se sentem atraídas uma pela outra.O encontro se faz quase sempre pelo olhar.Segue-se a participação da boca, primeiro em sorrisos, depois em palavras. Aí vai surgindo o desejo de tocar, de abraçar.

Pesquisadores americanos dizem que precisamos de SEIS abraços por dia para não nos sentirmos carentes. Por que seis? Talvez porque um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda, quatro então nem se fala...

Nossos braços servem para abraçar, enlaçar. Só que cada abraço tem de ser sentido, vivido. Como diz o terapeuta paulistano José Ângelo Gaiarsa, você não toca no outro como se ele fosse uma cadeira.Se não você está coisificando o outro. Acontece que o outro é de carne e osso, parecido com você, por isso o gesto não pode ser impensado, mecânico, automatizado.
As pessoas estão cansadas do gesto máquina, que não reflete nada.

Quando eu toco o outro, que está além das fronteiras do meu próprio corpo, eu o sinto e sinto a mim mesmo simultaneamente. Nesse sentido, podemos ficar horas sem fim nos tocando e nos sentindo. Mergulhando na sensação, percebendo o outro e nos percebendo com as pontas dos dedos.
Num sentido muito real, é como se você tivesse o mundo do prazer ao alcance das mãos. Essa é a linguagem do tato, dos sentidos ... a linguagem inicial da vida.

A primeira impressão de amor, que fica gravada indelevelmente no córtex cerebral da criança, vem do prazer de sugar. Associado à sucção vem o contato corporal, o calor que emana do corpo da mãe. A sensação de estar abraçada. A criança registra essa impressão na mente e vai pelo resto da vida tentando reconstituir, reencontrar essa sensação. Por isso o ser humano tem fome de abraço. Ele está tentando repetir o prazer que está associado a essa primeira experiência.

Assim como aprendemos a falar, porque algumas pessoas falam conosco --- e vamos falar da forma como elas falaram --- também aprendemos a tocar, em grande parte dependendo da forma como fomos tocados. O aprendizado do amor começa aí. As sensações de mamar e amar ficam profundamente interligadas, até inseparáveis na nossa mente.

Mais tarde, frequentemente comer se torna uma forma de compensar a falta de amor. É por isso que, quando estamos carentes, atacamos a geladeira, bebemos mais uma cerveja, tomamos mais um sorvete, comemos mais um chocolate.

Tanto a fome de alimento como essa fome de contato normalmente se intensificam nos períodos de tensão. Entretanto, enquanto a fome de alimentos podemos matar sozinhos com comida, cigarro ou álcool, a fome de contato dificilmente pode ser satisfeita sem outra pessoa. O que se quer é tocar o outro e se deixar tocar, mas não com um gesto vazio.

Os gestos traduzem nossos sentimentos, nossas emoções, nossas intenções. Por isso, cada um tem uma função, um significado diferente,dependendo de onde se toca e da forma como se toca. Nesses termos pode se distinguir carinho de carícia. Carinho é agrado, gesto é ternura, gesto que protege. Carícia é o gesto que excita, estimula, erotiza.São esses gestos que nos aproximam, nos vinculam um ao outro. Entretanto pode-se alisar, abraçar, tocar de forma apressada, impensada, dissociada. Ou pode-se tocar o outro sensualizando, erotizando cada movimento.

Cada gesto traduz um sentimento, uma emoção que provoca uma reação. Se o gesto é indiferente, não manifesta nada, não tem energia nem intenção. Você congela o outro e se congela. Se ele for macio, terno, doce, você derrete o outro e se derrete. Se ele for erótico, excitante, estimulante, apaixonado, você incandesce o outro e se incandesce também.

Muitas vezes quando se faz amor, carinho e carícia se misturam, se juntam se fundem e se confundem. Brincamos com o nosso corpo porque fazer amor é “ um alisar o outro e o outro alisa o um”. Nessa troca de carícias, o outro responde ao meu gesto e tende a fazer aquilo que meu gesto insinua. O que acontece é uma conversa dos dedos sobre a pele.

O que se busca, quando se faz amor é essa ampliação da consciência do contato. Na medida em que vamos aprendendo a ampliar o contato com outra pessoa, vamos ampliando e aprofundando nosso contato vivo e prazeroso com tudo o que existe.

Os dedos são antenas do corpo. É bom sondar, pesquisar, mergulhar, indo do superficial ao profundo, da periferia ao centro, do habitual ao diferente, porém com responsabilidade, com consciência, respeitando o outro e se respeitando. Nesse sentido, ninguém pode dizer “fiz amor”, pois o amor nunca se apresenta como coisa feita, acabada. Sempre há o que fazer e refazer.






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